Dom Columba Marmion

Biografia

Infância – Chamada de Deus – Chamada ao claustro
1858-1887

Destinado ao sacerdócio desde seu nascimento (1º de abril de 1858) por seus devotos pais, Joseph Marmion descobre aos poucos sua própria vocação: a vida religiosa beneditina.

Fiel ao radicalismo irlandês de suas origens, não hesitará em arrancar-se de suas raízes familiares e culturais para melhor deixar tudo e se consagrar a seu projeto monástico.

Uma abadia que nascia, sinal da renovação beneditina, vai responder às suas aspirações. É Maredsous, fundada em 1872 pela Abadia de Beuron.

Joseph Marmion, que se tornou Dom Columba por ocasião de sua profissão em 1888, vai crescer com este novo mosteiro e o extraordinário desenvolvimento e irradiação que ele terá progressivamente na Bélgica, na Europa e na Igreja universal, graças à seriedade de sua volta às autênticas fontes da fé e a um fervor litúrgico purificado de muitas devoções acumuladas pelos séculos precedentes.

Marmion, espírito bem formado e de ardor sacerdotal e missionário digno de suas raízes irlandesas, poderá aí desenvolver seus talentos.

Os inícios em Maredsous
1888-1899

Por definição, o início de uma vida monástica é vivido na modéstia e na humildade. Para Dom Marmion, já mais velho, já formado, isto foi uma provação acentuada pelo afastamento de seu país… e pelas concepções do mestre de noviços da época!

Mas os desenvolvimentos rápidos da renovação monástica vinda de Beuron, o afluxo das vocações e a proximidade dos criadores e condutores de homens que foram os irmãos Wolter, Dom Hildebrando de Hemptine, Dom Roberto de Kerchove, imprimiram à aventura monástica um ritmo exultante, para o temperamento generoso de Dom Marmion.

Seu sacerdócio se expandiu nas pregações externas que lhe foram solicitadas, ao passo que sua nomeação como “Zelador” dos noviços de Maredsous revelará seus talentos de conselheiro espiritual, talento que forjará definitivamente na nova comunidade de Mont-César, da qual será um dos pilares fundadores.

Como Cerimoniário, ele pôde viver como coreógrafo, durante vários anos, seu amor por uma bela liturgia.

Em 1896 esteve para ser enviado ao Brasil, a pedido de Dom Gerardo van Caloen, monge de Maredsous, seu amigo, que estava à frente de um grupo de monges da Congregação de Beuron, na restauração da vida beneditina no Brasil. Ele estava pronto e contente com esta perspectiva, só não viajando por não ter recebido a devida ordem de seu Abade.

Prior de Mont César em Louvaina e Diretor Espiritua
1899-1909

Dom Marmion tem 41 anos e está em Maredsous há cerca de doze anos quando aceita, na obediência, unir-se à nova fundação beneditina de Mont César em Louvaina. São também verdadeiras responsabilidades que lhe foram confiadas: direção dos ‘cléricos’ (jovens monges estudantes), professor de teologia depois, logo, Prior.

O temperamento apostólico de Dom Marmion o leva, além disso, a responder aos pedidos de ajuda espiritual vindos de conventos femininos (principalmente de Carmelitas) e masculinos (notadamente da Inglaterra, onde sua língua materna o introduz muito naturalmente).

Além disso, torna-se um confessor e um diretor espiritual muito procurado.

É também a ocasião de evocar a afinidade que ele partilha com a sensibilidade feminina, afinidade que irá dar uma coloração calorosa à sua espiritualidade.

 

Dom Columba Marmion torna-se o Terceiro Abade de Maredsous
1909

A irradiação espiritual desenvolvida em seu período de Louvaina, as responsabilidades que ele assumiu como Prior deste novo mosteiro, sua posição como confessor daquele que se tornou o cardeal Mercier, sua influência sobre os jovens monges de Maredsous estudando em Louvaina, são traços que predestinam Dom Columba à tarefa para a qual será eleito a 28 de setembro de 1909: Abade de Maredsous.

Estava ele, a priori, apto a exercer tal responsabilidade?

Que limites de seu temperamento não o impedirão em todo o caso de ser eleito e darão à sua ação uma coloração até então desconhecida no governo de Maredsous.

Após Plácido Wolter, o fundador, após Hildebrando de Hemptine, que lhe dá sua dimensão internacional, eis Columba Marmion, que trará a Maredsous sua irradiação espiritual.

Maredsous e seu novo Abade. A vida claustral

Dom Columba Marmion aceitou, pois a responsabilidade de um grande mosteiro, sempre em plena fase de crescimento.

Com uma visão da vida espiritual enraizada na união com Cristo e uma grande devoção mariana, o novo Abade poderá animar sua comunidade, mas igualmente assegurar de forma equilibrada sua irradiação espiritual, fundada na tradição beneditina da oração litúrgica ampla e menos inclinada às devoções que não eram exigidas pela prática eclesial da época.

O novo Abade desejará servir esta via fervorosa para Deus, mais do que a presidir como o anuncia sua divisa: Prodesse magis quam praeesse.

Dom Marmion na tormenta: O mosteiro e os acontecimentos do mundo

Se ele é em primeiro lugar o pai e o guia de sua comunidade, e a testemunha de que cada um busca verdadeiramente a Deus, o Abade é também seu representante principal no exterior.

A vida comunitária, como a vida pessoal, supõe escolhas. Uma das primeiras que Dom Marmion teve de fazer foi em relação a um pedido do governo belga: que os monges de Maredsous assumissem a missão de Katanga (Congo).

A comunidade de Maredsous, nesta circunstância, prefere se identificar à sua missão original de busca e de promoção das fontes da fé para a Igreja universal, mais do que se lançar num trabalho de evangelização direta.

A alma missionária deste Abade irlandês será talvez um pouco decepcionada desta decisão majoritária, mas ele seguirá a vontade de seus irmãos e sustentará indiretamente a missão de Katanga, assumida pela jovem Abadia de Santo André em Bruges (restaurada por Dom Gerardo van Caloen em 1899, erigida em abadia em 1901 e que pertenceu até 1920 à Congregação Beneditina Brasileira).

Seu espírito missionário teve matéria para se exercitar na eficaz ajuda que prestará à conversão ao catolicismo das comunidades beneditinas anglicanas masculinas e femininas de Caldey e de Milfort Haven (Sul da Inglaterra).

A tormenta torna-se a Primeira Guerra Mundial
1914-1918

A grande provação do Abade Marmion será a guerra de 1914. Como fazer que atravessassem este período conturbado, todos os membros de sua comunidade, respeitando e promovendo seu legítimo patriotismo, mas salvaguardando seus compromissos espirituais?

Ele assumiu a tarefa de criar e gerir um refúgio na Irlanda para que os jovens monges pudessem aí continuar sua formação.

Seu afastamento de Maredsous, depois seu afastamento do grupo de jovens em formação, após maio de 1916, serão a fonte de muitos mal-entendidos pouco favoráveis ao clima de confiança que supõe a vida comum.

Os esforços físicos e morais para assegurar a todos o mínimo vital, os numerosos deslocamentos em clima de stress, as incompreensões que tocarão diretamente sua sensibilidade, vão minar sua saúde.

Mas sua imagem sai engrandecida deste período difícil.

O pós-guerra e o Caso do Mosteiro da Dormição.

Se o pós-guerra exalta o patriotismo, ele é também a ocasião para Dom Marmion revelar sua dimensão de negociador internacional, .. negociador internacional, Dom Marmion será, notadamente, o criador, com o Abade de Mont-César (Louvaina) e a abadia nascente de Santo André (Bruges), da Congregação Beneditina da Anunciação. Tal estrutura tornou-se necessária para que os mosteiros belgas não dependessem mais da Congregação (alemã) de Beuron. A observar que o Mosteiro de Santo André foi restaurado e unido à Congregação Brasileira em 1899, sendo erigido em abadia em 1901, agregando-se à Congregação da Anunciação quando esta foi criada em 1920.

A necessidade de substituir os monges alemães de Beuron, expulsos de seu mosteiro da Dormição em Jerusalém, faz com que o Abade Marmion sonhe (no seguimento de seus jovens monges) com uma fundação de Maredsous na Terra Santa.

Apesar de seus esforços e dos apoios com que contará, tal sonho não se realizará e os monges alemães voltarão à Dormição.

Os últimos anos: o grande Abade

Recebendo pedidos de toda a parte para presidir celebrações, pregar, dar conselhos, Dom Marmion não se poupa, apesar de uma saúde enfraquecida pelos anos da guerra.

Com o cardeal Mercier, seu amigo e confidente, domina espiritualmente o cenário belga e internacional. A longa visita que lhe faz, em 1920, a rainha Elisabeth é disto um testemunho.

O fato de, apesar de sua fadiga, aceitar substituir o bispo de Namur (em setembro de 1922) para conduzir a peregrinação diocesana a Lourdes, confirma tanto esta notoriedade como sua profunda piedade mariana.

Quando ele preside as festas do Cinquentenário de Maredsous (de que viveu e depois dirigiu a história durante 35 anos), em outubro de 1922, desconfiava que não teria mais do que três meses de vida?

Seus três livros – Cristo, vida da alma; Cristo em seus mistérios; Cristo ideal do monge – que alimentarão a espiritualidade de um número muito grande de padres, religiosos e religiosas, já apareceram e Dom Raymond Thibaut, seu fiel secretário, prepara um quarto [Sponsa Verbi] destinado a estas “esposas do Verbo” que são as religiosas de clausura às quais ele pregou muitas vezes.

Mas ele se resfria no decurso de deslocamentos fatigantes; sucumbe à epidemia de gripe em seu mosteiro, a 30 de janeiro de 1923.

Pode-se afirmar que no momento em que morre, Maredsous está no auge de seu brilho.

Um modelo para o povo de Deus

Os traços de seus escritos, como a expressão de seu rosto, tal como fixada no tempo em que era vivo, permanecem nas bases de um contato concreto com Dom Marmion para os que não o conheceram.

Recolher seus escritos e os testemunhos dos que o conheceram foi inicialmente a obra de Dom Raymond Thibaut, seu fiel discípulo, editor e biógrafo.

Em seguida (após 1954), a Igreja iria reviver este desejo de memória ao abrir o processo de canonização do Santo Abade Columba Marmion.

Será preciso mais de 45 anos para percorrer todo o ciclo que conduz dos primeiros inquéritos diocesanos ao reconhecimento, pela Congregação para a Causa dos Santos, da heroicidade de virtudes e da reputação de santidade de Dom Marmion.

Rapidamente são atribuídos a ele favores e milagres, o que justifica, em 1963, a transferência de seu corpo para a igreja abacial de Maredsous e o reconhecimento pela Igreja do caráter milagroso de uma cura obtida junto a seu túmulo.

A partir de então, brilha a sua santidade, sendo, em primeiro lugar, o fato de um mestre espiritual para o qual Cristo Jesus está no centro de toda vida de fé e dirige nossa espiritualidade de filhos de Deus.