Dom Columba Marmion

Ação de Graças / Intenções de oração
Columba Marmion : Quarentenário

Gostaríamos de sugerir, como o faz a Regra de São Bento ao final de seu último capítulo (Capítulo 73), que nem tudo foi dito, nem tudo não foi vivido, mesmo que, sincera e verdadeiramente, tenhamos nos deixado arrastar sobre a Via de uma vida crística tal como a propõe a pregação do Bem-aventurado Marmion.

Que tentemos agora seguir e repetir este ‘percurso de santidade’ espiritual… Ele nos abrirá a cada dia um pouco mais a Deus e aos outros, ele nos fará crer à altura do Cristo ressuscitado, ele nos encherá do Espírito do Pai e do Filho. E, sobretudo, ele nos retornará às Palavras das Sagradas Escrituras e a toda sua tradição de onde a liturgia é como um monitor vivo para a comunidade de fiéis. Assim, se quisermos entrar na lógica de Deus, viver desde já o diálogo que existe entre o Pai e o Filho, se quisermos ter o espírito que grita em nós ‘Abba! Pai’, se nós quisermos viver a humildade, a obediência, a verdade de Maria, comecemos e recomecemos esta caminhada.

Para nos ajudar, são necessárias algumas “dicas”, pois somos falíveis, distraídos, sacudidos por um ambiente sonoro e visual cada vez mais sufocante: TV, rádio, GSM, etc. Na história da piedade, apareceu o terço ou o rosário que atrai a atenção sobre a humilde Maria, nossa Mãe em Jesus, e sobre os mistérios que a ligam a seu filho Jesus. O Papa João Paulo II chamou a atenção dos católicos sobre esta prática adicionando alguns “mistérios” da vida de Jesus para serem meditados nesta prática mariana.

Há o “Caminho da Cruz”, uma devoção muito apreciada e regularmente praticada por Columba Marmion que também escreveu um opúsculo para ajudar esta caminhada.

Há as novenas, os retiros de 30 dias, os Tríduos, etc.

Neste espírito, nós gostaríamos de propor às pessoas que estão em exercício com as perspectivas propostas pelo bem-aventurado Columba, o percurso do Quarentenário.

Quarentenário é um percurso livre, um “percurso-santidade” espiritual de 40 etapas, desafios ou chamadas. É composto de 40 pequenos pensamentos do Bem-aventurado Columba Marmion que representam o essencial de seu ensino. É um percurso que podemos fazer em 40 dias, em alguns dias (quatro dias?), em 40 meses, que podemos nos programar para fazer a cada Quaresma (Quadragésima, nome em latim de Quaresma, quer dizer Quarentena ou Quarentenário. Sabemos que o símbolo desta cifra é altamente bíblico: 40 anos no deserto para formar o Povo de Deus, e, para Jesus, 40 dias no deserto para afrontar a provação e fazer este percurso-santidade espiritual que determinará em sua vida a consciência de sua missão!).

Sugerimos que cada pensamento de Dom Marmion seja o objetivo das etapas seguintes (a livre escolha – chegaríamos a dizer segundo a “fantasia” – daquele que as quiser percorrer.):

a) Uma simples leitura da sentença e, logo em seguida, uma curta oração que prolongue o pensamento expresso na sentença e a transforme em ação de graças ou em pedido ao Pai de Jesus.
b) Se tiver um pouco mais de tempo: após a leitura, procure um texto da Bíblia que possa se aproximar da sentença do Bem-aventurado Marmion, leia este texto… e de novo termine por uma oração.
c) Se quisermos fazer um “exercício” completo: após a leitura e a escolha do texto bíblico que tenha ressonância com a sentença, empreender certo tempo para uma reflexão pessoal (seria melhor ainda se esta reflexão pudesse ser feita dialogando com um grupo que queira utilizar o Quarentenário de Marmion como guia de vida e oração), fazer com que a reflexão termine na reflexão de uma ou outra sugestão concreta de vida (Uma atitude, uma ação, um engajamento). Em seguida terminar com uma oração inspirada pelo exercício como um todo: escuta do Bem-aventurado Columba, escuta da Palavra, deixar o Espírito trabalhar em nós através das reflexões e deixá-lo nos inspirar o bem que Deus quer que façamos; enfim, render glória ao Pai ou ir de encontro a Ele com nossas humildes necessidades, como Maria. Deixemo-nos inspirar pelo Espírito do Deus de Jesus:

“Só o Espírito Santo é capaz de reproduzir em nós a verdadeira imagem do Filho, pois nossa semelhança deve ser construída de forma sobrenatural”.

Assim, este trabalho do artista divino se realiza, sobretudo, na oração fundada sobre a fé e envolvida pelo amor. Enquanto, os olhos da fé juntamente com o amor que deseja se doar, contemplamos os mistérios do Cristo, o Espírito Santo, que é o Espírito do Cristo, age no íntimo da alma e através de seus toques sobrenaturalmente eficazes, esculpe a alma de maneira a reproduzir nela, como por uma virtude sacramental, os traços do modelo divino.

Eis porque esta contemplação dos mistérios de Jesus é em si mesma fecunda; eis porque o contato essencialmente sobrenatural que a Igreja, guiada nisto pelo Espírito Santo, nos faz apreender na liturgia com os estados de seu Esposo, é para nós tão vital. Não há via mais certa, nem meio mais infalível para que nós assimilemos o Cristo. (O Cristo em seus Mistérios, Marmion 1998, p. 28).

As diferentes etapas deste caminho espiritual beneditino terão sempre mais ou menos o mesmo esquema:
- Leitura curta de um texto dos escritos de Columba Marmion;
- Ligação eventual às Santas Escrituras ou à Regra de São Bento;
- Reflexão pessoal e/ou partilhar algo sobre este texto 1;
- Oração adaptada; - Proposições de aplicações, de ações concretas na nossa vida espiritual, profissional ou familiar.

Eis as 40 etapas propostas por este Quarentenário:

O conhecimento de Deus

1. Quando nos é dito que Jesus é seu Filho bem-amado, o Pai nos revela sua Vida; e quando nós cremos nesta revelação, nós participamos do conhecimento do próprio Deus. (O Cristo em seus mistérios, Marmion 1919, ES, 1998 p.504)

A adoção filial

2. O Santo, o mais elevado nos céus é aquele que, aqui em baixo, foi mais perfeitamente criança de Deus, que fez frutificar abundantemente nele a graça de sua adoção sobrenatural em Jesus Cristo. (O Cristo em seus Mistérios, Marmion 1919, ES, 1998 p.375)

3. É para todas as crianças a adoção, para todos aqueles que são os irmãos de Jesus pela graça santificante, que o Espírito Santo foi dado. E porque este dom é divino e contêm todos os dons mais preciosos de vida e de santidade, sua efusão em nós é “uma fonte de alegria que preenche o mundo inteiro.” (O Cristo em seus mistérios, Marmion 1919, ES, 1998 p.574)

4. Seremos santos se formos « crianças de Deus » e se vivermos como verdadeiras « crianças » do Pai Celeste, dignas de nossa adoção sobrenatural. (O Cristo em seus Mistérios, Marmion 1919, ES, 1998 p.60)

O Espírito forma Jesus em nós

5. Pela sua ação infinitamente delicada e soberanamente eficaz, o Espírito Santo forma Jesus em nós. (O Cristo em seus Mistérios, Marmion 1919, ES, 1998 p.575).

A humanidade de Jesus

6. Quando assistimos com espírito de fé a esta cena deliciosa de Betânia, sentimos em nossos corações que Jesus é verdadeiramente um de nós. Deus vivo por nós, em nós, conosco. (O Cristo em seus Mistérios, Marmion 1919, ES, 1998 p.492)

A humanidade de Jesus como uma “Via”

7. A Santa Humanidade de Jesus é a “Via”. Sua potência para nos unir ao Verbo é infinita. Sejamos santos para a sua glória. (Um mestre da vida espiritual, Thibaut 1932, p.372)

A união do Cristo e a Fé

8. Quando se tem uma fé viva no Cristo, não se tem medo nem das dificuldades, nem das contradições, porque se sabe que o Cristo habite em nós pela fé e que nos apoiamos sobre Ele. (O Cristo, o ideal do monge, Marmion 1922, ES, 1998 p.707)

A imitação do Cristo

9. A Vida espiritual consiste, sobretudo, em contemplar o Cristo para reproduzir em nós seu estado de Filho de Deus e suas Virtudes. (O Cristo, Vida da alma, Marmion 1917, ES, 1998 p.85).

10. O Cristo é mais que um modelo, mais que um pontífice que nos obteve a graça de imita-lO; é aquele que, por seu Espírito, age no íntimo da alma para nos ajudar a imitá-lo. (O Cristo, Vida da alma, Marmion 1917, ES, 1998 p.85).

11. O Cristo é o modelo perfeito de nossa Santidade. Deus encontra Nele todas as suas delícias. Ele as encontra em nós segundo o grau de nossa semelhança com Jesus. (A união a Dieu, Thibaut 1938, p.42)

O discípulo, outro Cristo: morto e ressuscitado.

12. Tornar-se discípulo de Jesus na fonte sagrada, por um ato que simbolize sua morte e sua ressurreição, devemos reproduzir esta morte e esta ressurreição durante os dias que temos de passar aqui embaixo. (O Cristo, Vida da alma, Marmion 1917, ES, 1998 p.158).

A união ao Cristo pela Eucaristia

13. É o sonho da alma de ser um com Aquele que ela ama. A comunhão, na qual a alma recebe o Cristo, realiza este sonho, transformando pouco a pouco a alma no Cristo. (O Cristo, Vida da alma, Marmion 1917, ES, 1998 p.249)

14. Se o quisermos, a mudança admirável ainda continua, pois é também por Sua Humanidade que na Mesa Santa, o Cristo nos infunde a Vida divina. É comendo sua Carne e bebendo seu Sangue, nos unindo a Sua Humanidade, que chegamos à própria fonte da Vida eterna. (O Cristo em seus Mistérios, Marmion 1919, ES, 1998 p.429)

A Eucaristia compartilhada e o próximo

15. Quando comungamos, devemos sempre estar prontos a abraçar numa mesma caridade o Cristo e tudo é a Ele unido; pois a medida da doação do Cristo à nossas almas é aquela de nossa própria doação a nossos irmãos. (O Cristo, o ideal do monge, Marmion 1922, ES, 1998 p.961)

16. Não tenho medo de dizer que uma alma que se entrega sobrenaturalmente, sem reservas, ao Cristo na pessoa do próximo, ama muito o Cristo e é por Ele infinitamente amada; ela fará grandes progressos na união com Nosso Senhor. (O Cristo, Vida da alma, Marmion 1917, ES, 1998 p.306)

17. O Cristo se tornou próximo, ou melhor, nosso próximo; é o Cristo que se apresenta a nós sob tal ou tal forma. (O Cristo, Vida da alma, Marmion 1917, ES, 1998 p.304)

O amor

18. A Via mais certa, a mais curta, a mais luminosa, a mais doce também, é a Via do Amor. Mas, para andar nesta Via, é necessária uma coerência muito grande. (A união a Deus, Thibaut 1938, p.20-21).

19. O amor é o que mede em última instância, o valor de todos os nossos atos, mesmo os mais ordinários. (O Cristo, ideal do monge, Marmion 1922, ES, 1998 p.737)

20. Tudo aquilo que Deus faz por nós tem o amor como motivação. O amor está no fundo da criação e de todos os mistérios da Redenção. (O Cristo, ideal do monge, Marmion 1922, ES, 1998 p.931)

21. Nosso amor deve ser sobrenatural; a Verdadeira caridade é o amor de Deus que inclui num mesmo abraço, Deus e tudo o que está unido a Ele. (O Cristo, Vida da alma, Marmion 1917, ES, 1998 p.309).

22. Se entregar ao próximo, ou melhor, se entregar ao Cristo na pessoa de seus membros, é a Verdadeira prova de amor. (A união a Deus, Thibaut 1938, p.256)

A espiritualidade beneditina e o Evangelho

23. A espiritualidade de São Bento procede diretamente do Evangelho; é isto que dá a ela este selo de grandeza e de simplicidade, de força e de suavidade que a caracteriza acima de tudo. (O Cristo, ideal do monge, Marmion 1922, ES, 1998 p.725)

A "lectio divina" e o Evangelho

24. O conhecimento de Jesus e de seus estados se apoiam no Evangelho. Feliz a alma que se abre a cada dia! Ela bebe da própria fonte das águas vivas. (O Cristo em seus mistérios, Marmion 1919, ES, 1998 p.352-353)

A oração

25. A oração é como uma expressão de nossa vida íntima de ‘crianças’ de Deus, o fruto de nossa filiação divina no Cristo, desenvolvimento espontâneo dos dons do Espírito Santo. (O Cristo, Vida da alma, 1917, ES, 1998, p.282).

26. Quando a graça e o amor ocupam toda nossa Vida, toda a nossa existência é como um hino perpétuo à glória do Pai celeste. (O Cristo, Vida da alma, 1917, ES, 1998, p.222)

A humildade

27. A humildade é a confissão prática e contínua de nossa miséria, e esta confissão atrai a atenção de Deus. (O Cristo, Vida da alma, 1917, ES, 1998, p.799).

28. A verdadeira humildade não nega os dons de Deus; ela os utiliza, mas ela os devolve com toda a glória Àquele os cedeu. (O Cristo, ideal do monge, Marmion 1922, ES, 1998 p.818).
O perdão, a pobreza, a fraqueza.

29. Quanto mais nos empobrecemos, mais as riquezas inefáveis do Cristo encontram seu lugar em nós. Nossa miséria conhecida e confessada atrai generosidade. (A união com Deus, Thibaut, 1938, p.156)

30. Nada desarma a justiça de Deus a nosso respeito como a misericórdia que temos pelos outros. (A união com Deus, Thibaut, 1938, p.182).

31. Somos miseráveis e nossas misérias unidas àquelas de Jesus gritam ao nosso Pai celeste. (A união com Deus, Thibaut, 1938, Thibaut 1938, p.111).

32. Adoro pensar após a comunhão que o Verbo eterno que está ‘no seio do Pai’ está igualmente em mim ‘no seio de um pecador’. Tal pensamento desencadeia em mim adoração e ação de graças. (Um mestre da vida espiritual, Thibaut 1932, p.412)

A santidade

33. Ninguém pode dizer: a santidade não é para mim. O que pode torná-la impossível? Deus a deseja para nós. (O Cristo, ideal do monge, Marmion 1922, ES, 1998 p.617)

34. Para nós é uma ambição legítima tender com todas as nossas forças na busca por esta glória que Deus colocou em nossa santidade. (O Cristo em seus mistérios, Marmion 1919, ES, 1998 p.608).

Maria

35. Maria participa de alguma forma, na autoridade do Pai eterno sobre a humanidade de ser Filho. Jesus poderia dizer de Sua Mãe o que ele disse de seu Pai dos Céus: “Cumpro sempre o que Lhe agrada”. (O Cristo, vida da alma, Marmion 1917, ES, 1998 p.317)

36. Vejo hoje que Maria foi perfeita em sua fé sublime aos pés da Cruz. Oh! Que Ela nos obtenha esta graça, símbolo de uma fé perfeita, mesmo na nudez da provação! (Um mestre da vida espiritual, Thibaut 1932, p.397)

37. Devemos ser como Jesus “Filhos de Deus” e “Filhos de Maria”. Se nós queremos reproduzir sua imagem em nós, devemos ter esta dupla qualidade. (O Cristo, vida da alma, Marmion 1917, ES, 1998 p.313)

38. Que pediremos nós a Maria? Senão, antes de tudo e acima de tudo, que Ela forme Jesus em nós, nos comunicando sua fé e seu amor. (O Cristo, vida da alma, Marmion 1917, ES, 1998 p.324)

39. Os que nãoconhcem a Virgem, os que não a tem pela Mãe de Jesus um amor verdadeiro, arriscam de não compreender frutuosamente os mistérios da humanidade do Cristo. (O Cristo em seus mistérios, Marmion 1919, ES, 1998 p.444)

Consagração à Santa Trindade (25 de dezembro de 1908)

40. Ó Pai eterno, prostrados em humilde adoração a vossos pés, nós consagramos todo nosso ser à glória de vosso Filho Jesus, o Verbo encarnado. Vós o constituístes Rei de nossas almas; submeta a Ele nossas almas, nossos corações, nossos corpos, e que nada em nós não se mova sem a sua ordenação, sem sua inspiração. Que unidos a Ele, nós sejamos levados ao vosso Seio e consumidos na unidade de vosso Amor.
Ó Jesus, nos una a vós na vossa vida toda santa, toda consagrada ao vosso Pai e às almas. Seja a nossa sabedoria, nossa justiça, nossa santificação, nossa Redenção, nosso tudo.
Santificai-nos na verdade.
Santo Espírito, Amor do Pai e do Filho, estabeleça-vos como uma fornalha de amor no centro de nossos corações e elevai sempre - como flamas ardentes - nossos pensamentos, nossas ações e nossas afeições, para o alto; até o interior do Seio do Pai. Que nossa vida inteira seja uma Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Ó Maria, Mãe do Cristo, Mãe do Santo Amor, conformai-nos vós mesma segundo o coração de vosso Filho. (Consagração de Dom Marmion à Trindade Santa)